Goma arábica!

É só mesmo por uma questão de superstição: antes que anoiteça e se entre na última noite do ano civil do calendário gregoriano vim aqui. Este é o dia de São Silvestre, em que se joga fora o velho e se vaticina o novo. Oxalá assim seja e esta maleita incógnita se vá. À falta de confiança na Medicina e de optimismo na cura fui-me hoje ao Lunário Perpétuo. E acho que vi lá o diagnóstico e a cura.
Devo ter pleuriz agudo: dôr viva em um dos lados do peito, «que aumenta na inspiração do ar, nos esforços da tosse, nos movimentos do corpo; respiração difícil, tosse seca com pouca expectoração, que é mucosa, pulso frequente».
Agora o difícil é o tratamento: «observe-se dieta rigorosa, deitar o doente na cama, aplicar-lhe oito ou dez bichas ou duas ventosas sarjadas sobre o lugar dorido se o pulso é pouco desenvolvido; se houver grande febre, dê-se uma sangria ao doente proporcionada às forças dele. Depois da extracção do sangue por qualquer dos meios indicados, deita-se-lhe um cáustico».
Bom: ante 8-10 bichas, duas ventosas sarjadas, uma sangria proporcionada e um cáustico a rematar, acho que já me sinto melhorzinho. Muito melhorzinho mesmo!
Ah! Segundo o Lunário também ajuda se tomar xarope de goma-arábica. Antigamente fazia-se cola com isso, peganhenta, daquela barata que se usava nos escritórios modestos e nas estações de correios, como a de Coimbra velha, ali com um pincel quase careca, preso por uma corrente para não o gamarem!
Talvez seja a minha cura definitiva: colo-me à vida e não a largo mais! Mais do que a longevidade, é a eternidade garantida...