Gogomobile

A pequena criatura sou eu. A sombra que sobre o automóvel se projecta, a do meu pai, orgulhoso do seu menino, a máquina fotográfica, em baquelite, de que só me recordo as minúsculas fotografias que tirava. A viatura um Gogomobile, que só mais tarde viria a saber ser da fábrica BMW. Recordo sim que tinha as mudanças eléctricas no tabelier.
A matrícula começava por "A", por ser emitida em Angola.
Fora uma oferta do meu pai a minha mãe. Naquele tempo a vida permitia-lhe isso. Uns anos depois o tecto cair-nos-ia em cima. Ficou desse mundo a pálida fotografia. E memórias tristes por causa desse oferta. Não interessam para o que aqui escrevo. 
A verdade de uma vida é o que dela importa, mescla de memória e de esquecimento. Talvez um dia se escreva da História do Mundo Omitido, como a do meu pequeno mundo, a deste pequeno carro.