O filho da professora


Tinha nisso muito orgulho, o de ter sido professora primária do ensino particular. Era este o seu mais querido galardão.
Tinha então 21 anos, primaveras como se dizia quando o passar dos anos se contava com o nascer das flores, mesmo o de 1943, o mundo devastado pela carnificina da guerra.
Ensinava no Colégio João de Deus, no Monte Estoril. Mais tarde os passos encaminharam-me a ir ver, pelo exterior, o lugar.O âmago, a nobreza do ensinar, essa, pressentia-a apenas. 
Assinava com uma letra gótica, de uma rectidão com a sua, como se houvesse uma moral intrínseca que a caligrafia traduzia.
Esta noite fui ao encontro do cartão. Emitido pelo Sindicato dos Professores do Ensino Particular. Identificava-a uma fotografia de uma serena beleza. Por um instante o Universo suspendeu-se, ante o menino de sua Mãe.