Uma folha e uma flor



Chego hoje, dia 25 de Março, aos 67 anos de idade. Nestas datas pensa-se no que se fez, no que se poderia ter feito, em tudo quanto a vida fez de nós. Poderia ser assim também. Mais importantes que certos dias são, porém, todos e cada um dos dias. 
Ida a ânsia de querermos reiteradamente ter vinte anos, essa angústia irrequieta de fingida juventude eterna a refazer-se, fica a tranquilidade do dia presente, a felicidade encontrada de ter com quem o partilhar. 
Houve anos em que, pelo raiar do dia, telefonava, a voz a alegrar-se, parabéns a quem era pequenino, o seu eterno menino. Hoje é, naquilo que me deu o ser, um ponto na memória ferida. A vida que recebi dei-a a três filhos. Encerrou-se assim o círculo de giz da renovação.
Estou feliz em casa e em paz comigo. Não me aflige o tempo que falta nem o espaço por habitar.
Esta noite, sendo duas e vinte da madrugada, cai uma folha na árvore nocturna do calendário, nasce uma flor no jardim da aurora que é viver.